Durante transmissão ao vivo do programa Código-Fonte, o embaixador Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores, expôs o processo pelo qual se impõe uma desumanização do adversário político, que é tratado como se fosse uma figura inferior, despida de direitos, de tal forma que os abusos praticados contra essas pessoas não chegam sequer a surpreender.
Araújo falava das vítimas de perseguição nos Estados Unidos e comparou com os perseguidos políticos no Brasil, mostrando o que vem ocorrendo com as pessoas que foram presas em massa a mando do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Ele disse: “Então, isso ocorre nos Estados Unidos, ocorre no Brasil. Eu acho que as vítimas mais presentes disso no Brasil são, realmente, os patriotas que foram presos ou que estão presos, que estão com a sua vida completamente destruída, com tornozeleira eletrônica, e tudo isso por causa do oito de janeiro no Brasil. Essas pessoas foram desumanizadas. Há todo um trabalho jurídico, psicológico, midiático de considerar que essas pessoas, de tentar impor ao resto da sociedade a impressão de que essas pessoas não têm direito a absolutamente nada, nem mesmo à vida. Uma delas, o Clezão, estava doente e pediu pra ir pra casa, ficar em prisão domiciliar, para se tratar. Advogados pediram, o Ministério Público pediu, o STF recusou. A pessoa morreu. Então, basicamente é o efeito disso aqui. Então, o STF considerou que essa pessoa não tinha direito à vida. O que não assusta ninguém, parece”.
Ernesto Araújo mencionou o filósofo italiano Giorgio Agamben, que expôs o conceito do homo sacer. Ele relatou: “Este seria o homem sagrado, mas em sentido ambíguo. No fundo, significa o contrário. O ser humano maldito. (...) Agamben é muito estudioso de direito romano, então, no direito romano tinha a figura da pessoa que perdia seus direitos e se tornava portadora apenas da sua vida, o que o Agamben chama sua vida nua. Só tinha o fato da sua própria vida, não tinha direito nenhum naquela sociedade e ele era uma pessoa que qualquer um poderia matar impunemente. A eliminação física não gerava uma punição. Coloca-se as pessoas fora de qualquer proteção legal. A ponto de fazer vista grossa até mesmo ao eventual assass** dessas pessoas. Ele é um extremista, é alguém de ultradireita. O que é esse ‘extremista de ultradireita’? É o Homo Sacer. (...) O ser humano maldito, que não tem direito a nada. Alguém que não merece o Império da Lei”. O diplomata explicou que o filósofo fez sua carreira criticando as sociedades ocidentais, mas foi jogado no ostracismo ao aplicar o mesmo nível de crítica às ditaduras apoiadas pela esquerda.
Ernesto Araújo explicou: “Então essa é a sociedade que está sendo criada na prática. Isso tem cara de democracia? Não, não tem cara, absolutamente. É o contrário de democracia. E o que é pior é que isso faz parte de uma programação da esquerda, uma programação profunda da esquerda, uma programação profunda do marxismo. O marxismo é, na verdade, um anti-humanismo. O inimigo do marxismo não é o capitalismo. O inimigo do marxismo é o ser humano. Para o marxismo, toda a humanidade é Homo Sacer. O marxismo, ele vê o ser humano como um ser que não merece nenhum direito, que não merece nada que não lhe seja concedido por um poder político, no fundo exercido pelo Partido Comunista, que terá o poder definitivo nos dias do apocalipse comunista, segundo a doutrina deles”.
O diplomata afirmou: “O marxismo declara e enxerga todo ser humano como desprotegido de qualquer força que possa interferir com a força do partido. Ele declara o ser humano fora da proteção divina, obviamente, porque ele exclui toda a esfera da transcendência de Deus. E ele também o ser humano fora da proteção do Estado, porque o comunismo, na última, nessa última instância, não tem nem o Estado, porque o Estado, mesmo que seja totalitário, ele ainda é Estado, ele ainda tem algum arremedo de lei, então não tem mais nem nenhuma proteção, digamos, formal, do Estado, e é alguém submetido simplesmente ao poder, sem nenhuma escapatória, sem nenhum véu”.
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